Qual foi a última vez...
Qual foi a última vez que você sentiu aquele frio na barriga?
Que fez algo novo pela primeira vez?
Que fez algo que fazia com frequência em uma época da sua vida e (re)fez atualmente?
- Ei, qual foi a última vez?
Silencie. Responda, sem pressa.
Mas por favor, responda.
Tenho feito esse exercício desde o meu aniversário (sou de janeiro). Fiz algo que fazia com frequência na adolescência (explicada a razão de não repetir) ok, colágeno à parte!
Eu ganhei um livro de presente e tinha até esquecido que estava na lista de aquisições futuras. Quando abri, fiquei parada e lembrei o quanto queria ler.
Pois bem, movida pelo desejo de ler e pelo dia que estava mais tranquilo, comecei imediatamente, ali, no MESMO instante!
Quero parar aqui e dizer duas coisas:
1° eu tenho outros livros aguardando minha leitura;
2° a mente ciente disso, me cobrou.
Já percebeu que quando estamos diante de algo que queremos, precisamos fazer, ou desejamos muito, a mente nos põe em "xeque"?!
Bom, ignorei a cobrança e comecei.
E foi tão bom! Leitura fluida, leve (apesar das fortes questões logo de início), me identifiquei tanto que ignorei também os afazeres daquele dia. Naquela noite, após a rotina de costume, não deitei no horário, escolhi retomar a leitura. E por fim, terminei em três dias.
Quando era adolescente, tinha essa mesma ânsia. Fazia isso com frequência quando gostava do livro. Quando precisava devolver na biblioteca, ou desejava seguir para o próximo volume.
Eu me senti aquela adolescente.
Lembrei de livros que li.
Da sensação de escolher.
Do professor da biblioteca da escola que indicava sorrindo quando pedia mais livros.
Lembro que nas férias, ele me deixava levar para casa (não podia levar).
E lembro do meu cuidado ciente da exceção com o livro e a empolgação para voltar e lhe contar o que achei da leitura.
Lembro que ele era muito gentil comigo, que toda aula vaga eu corria para biblioteca.
Conversávamos sobre livros e ele, um senhor culto, humano, cheio de histórias e boas dicas, foi a segunda pessoa a influenciar meu apreço e amor pelos livros, pela leitura.
Lembrei da sensação de terminar um romance. Do cheiro do livro. De entrar em uma biblioteca. Dos sonhos daquela época!
E sabe o que foi mais interessante? Eu me vi escrevendo sonhos daquela época, e me peguei feliz, percebendo onde cheguei, com um ✓ nos mais importantes do ponto de vista de uma adolescente.
Não sei explicar, ao certo, a sensação... Mas foi tão profundo, tão meu. Que queria deixar aqui, esse movimento. Este ato simples, mas que exige de nós: parar, analisar.
Exige esforço. Exige fazer algo de novo que não fazia há muito tempo ou fazer algo pela pela primeira vez.
E talvez perceber que esse sentimento intenso não precisa se atrelar a intenções radicais, pular de paraquedas, voar de asa delta, dar à volta ao mundo ou conhecer a China em dois dias. Normalmente o mais profundo emerge quando fazemos as coisas mais simples.
Aquelas que ficam por alguma razão, ou pelas razões óbvias: incontáveis demandas, tarefas, mais de uma vida além da sua para cuidar… e nos deixamos no segundo, terceiro, quarto plano... Nos esquecemos.
Como responder ao que gostamos, o que almejamos para o futuro...
Quem SOMOS, se o simples, não está claro para nós? Se o destino não é desejado, sonhado, o que vier servirá? Será?
Enfim, estou com essa reflexão desde então e quero deixar aqui para você, nessa quinta-feira pela manhã, esse convite: olhar para si.
É fato que a felicidade nos encontra trabalhando. Que não devemos fazer somente o que nos faz bem e feliz...
E que podemos nos tornar reféns das nossas vontades e desejos.
Tenho consciência disso e você também, acredito eu.
Contudo, quem acorda mais disposto, trabalha mais feliz.
Seja este trabalho na empresa, no home office, na dedicação aos estudos da escola, faculdade ou concurso e especialmente em casa, nos infinitos deveres…
Entregamos uma parte nossa todos os dias. Algo de nós, precisa estar conosco, não acha?
Por vezes, exigimos do outro aquilo que somente nós podemos nos proporcionar e acabamos incorrendo no risco de sufocar quem está ao nosso redor e de não nos ouvir, não compreender nossos desejos, faltas, anseios…
Ser gentil com quem amamos não é sempre fácil, mas fazemos. Analisamos o que falamos, quando falamos, às vezes até silenciamos em busca do melhor momento... Por que então somos tão cruéis com nós mesmos?
Que sejamos gentis conosco e com esse questionamento interno, e não esqueça, lembre-se, e responda:
- Qual foi a última vez, que você fez algo pela primeira vez?
- Qual foi a última vez que sentiu aquele frio na barriga?
E quando tiver a resposta, faça!
Que se torne um hábito fazer algo que gosta ou relembrar o que te traz satisfação.
Meu convite semanal: pausa, encontro, seu reencontro.
Até semana que vem, abraço!
Raquel Francisco
Amo suas cartinhas, Raquel <3
(Re)viver os lugares, pessoas, objetos. Um jeito bom de presença em si mesma e as tantas transformações...